SANTA TERESA
Ao meio-dia subimos o morro
Para ver banheiros do tempo do imperador
Diante da tela de Picasso
Sob a luz mortiça do mosteiro
Ela penteou os cabelos loiros
O líquido azul dos olhos dela
Sorvendo-se no escuro dos meus
Levou-me a ver o que o amor havia causado
À mente de Arthur Bispo do Rosário
Ao anoitecer um piano dissonante
Nos fez dormir já perdidos um do outro
NO FIM DO CAMINHO
Ao meu amor jurei fidelidade.
Imprimi tua beleza no olhar de criança.
Não sabia que das virtudes, a lealdade,
Não era o melhor que trazias por herança.
Descoberto que o humano frágil era,
Ainda assim te dei meu coração.
Não o quisestes. Querias uma quimera.
Nem o teu pusestes em minhas mãos.
Ao longo de tantos, demorados anos,
Cheguei ao fim do difícil caminho.
Atravessei montanhas, desertos, oceanos.
Esforço vão. Eis-me no gelo a tremer sozinho.
O meu amor desfeito em ossos arrasto.
A traição foi tua. Meu é só o cansaço.
SONETO URBANO
Foi bom ter estado aqui a rir
No mesmo tempo que você.
Às vezes sem saber aonde ir,
Sentir a mesma gana de vencer.
A vida passa tão depressa. Parece
Que sempre seremos os mesmos,
Em busca do sem sentido da festa
que nos vai roubar os cabelos.
Não sei se foi só um beijo amargo,
Tão somente sei que não era amor,
Que tudo aconteceu como um travo,
Emoção rápida, barata, sem calor.
Você era a verdade que não se podia trair,
A lealdade que não nos permitia mentir.