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ANTÔNIO GARCIA MURALHA

31 AGO 2018
31 de Agosto de 2018
Nasceu em Monte Carmelo, Minas Gerais, em 1948. Estudou e viveu em Araguari e desde 1964 vive na cidade satélite de Taguatinga, no Distrito Federal.  Estudante na Universidade de Brasilia, participou ativamente do movimento estudantil. É preso e torturado durante a ditadura militar em 1974. Premiado com o troféu do Jubileu de Prata da cidade de Taguatinga e o Titulo de Cidadão Honorário da mesma cidade.

 

Livros:  Um Vôo no Césio 137 (para dar um recado a Carolina) em 1989; “Academia em Dois Discursos”, em parceria com Newton Rossi, ao ingressar na Academia Taguatinguense de Letras. E o “Verso é Verso, o resto é prosa” (Prêmio Lual de Educação 2004) de onde extraímos os seguintes versos.


http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/antonio_garcia_muralha.html
RESSACA

 

Dormir... e, ao acordar, sentir que a vida

Repete os outros dias como um eco,

Como a monotonia da batida

De um sino, ou do arranhar de um reco-reco!

 

Dormir... e, ao acordar, ir ao buteco

Atrás da pinga-pura ou da batida...

Bebê-la à semelhança de um buneco

Que ingere o elixir da longa-vida!

 

Dormir... e, ao acordar, sentir que a morte

Andou rondando, à noite, a casa escura...

Supor que até se tem é tido sorte;

 

Porque, quem sabe assim da dita-pura,

Mergulha no elixir da longa-morte

E sonha que afogou a vida-dura!

 

 

QUE NEM LOUCO

 

Ele vem pelo meio dos carros

De mansinho que nem sombração,

Quase sempre trazendo um cigarro

E outras coisas em uma das mãos,

Imponente, cabeça bem alta,

Enfeitado que nem astronauta.

 

Quando fecha o sinal, ele pára,

Equilibra e confere a motoca,

Tira o tampo que leva na cara,

Põe a guimba do pito na boca,

Dá uma olhadinha de lado, bafora,

Toma pose, acelera e cai fora.

 

Quando aberto o sinal, ele voa

Que nem bala, parece um corisco,

Convencido de estar numa boa,

Ele esquece e não pensa no risco:

Que a motoca que o leva nos braços

Não faz ser o dono do espaço.

 

E não sabe do risco que corre:

A motoca não pensa e nem morre.

 

 

RECONSTRUÇÃO

 

Pelo pão de cada dia que eu não como

Pela paz de muitas tréguas que eu não vejo

Pelo chão de tantas terras que eu não tenho

Pelo bem de toda a vida que eu não vivo

 

Eu não protesto não

Eu não perturbo não

Eu não confundo não

Eu não destruo não

 
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