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Antonio Miranda 

02 JUL 2018
02 de Julho de 2018
ANTONIO MIRANDA — Antonio Miranda é poeta e romancista. Professor da Universidade de Brasília, tem seus textos publicados e apresentados em teatros de diversos países, e em várias línguas. Seus livros clique aqui mais conhecidos são “Tu País está Feliz” (em português e em espanhol), “Per Ver Sos”, “Retratos e Poesia Reunida” e “Despertar das Águas”. Seus poemas também podem ser lidos na




O amor é mesmo assim...


O amor é mesmo assim...
Chega sem mandar aviso de chegada
Vem puro, nu, tal criança nascendo,
Ou vem ferido por senda espinhosa
Não bate à porta, entra e se instala.

Surge, anjo azul entoando cânticos;
Da nuvem onde repousava latente
Ansiedade do nosso coração sozinho
Ou andejo triste buscando carinhos.

Faz nosso corpo sempre perfumado
E todo dia ser domingo primaveril
A nossa vaidade mais vaidosa ainda
Sorrimos para o espelho, ele ao lado.

O amor é mesmo assim...
Floresce dum olhar, duma palavra...
Germina dum sorriso ou vem à-toa
Delicado como quem devia vir antes
Jogando-se ou como não querendo nada

O amor é mesmo assim...
Ao chegar traz na bagagem saudade
Ou ele se enraíza para toda a vida,
E saudades serão apenas momentos,
Ou por pouco tempo, e depois parte,
E deixa na gente um estrago danado.

O amor é mesmo assim...






Sábio de amor


deixa o amanhã para o amanhã
não percas o hoje que deve ser ora.
queres saber do futuro? vale sim,
porque será presente, como agora.

abraça apertado o instante em si
como se abraça a pessoa querida
que aportou vindo de muito distante
e o acolhe no mais quente cais em ti

sê sábio de amor nas tuas loucuras
concebe com prazer como o foste tu
deixa-te perder no que tens sido
e encontra-te melhor mais adiante

sê espontâneo e livre como criança
a realidade em tuas mãos amorosas
fará alegre o tempo com a confiança

entre esta e aquela vida (se existir)
há acerto, não sabemos, nem tu nem eu,
qual seja, agora, deixa o amanhã,
não percas o hoje que deve ser ora. 






BRASÍLIA

Poema de Antonio Miranda



Brasília é branca e luminosa,

de mármores e vidraças

refletindo nuvens metafísicas.

 

Blocos e quadras

e avenidas enfileiradas,

viadutos, memoriais,

geometrias e concretudes

transcendentais.

 

Onde o sol se põe

– teatral –

entre as torres do Congresso Nacional.

 

Numa escala de cenógrafo

neoconcretista, construtivista,

lançando manifesto

pela integração das artes:

pela dança das esquadrias,

poesia das colunas avarandadas,

pilotis sobranceiros

sustentando o firmamento do Cruzeiro do Sul.

 

Jardins petrificados,

monumentos vegetais.

 

Pirâmides, tumbas faraônicas

cabalísticas

erguidas

sobre rochas imantadas

a salvo dos dilúvios,

anunciando o Terceiro Milênio.

 

Como evitar o misticismo?

 

Yokaanan refugiou-se na

eclética cidade,

Tia Neiva fecundou o vale

no sincretismo das crenças

dos humildes

enobrecidos, capas e véus, vestais

em castas devocionárias.  

 

Vivemos entre nordestinos

gaúchos, cariocas, paulistas

e extraterrestres.

   

Legiões humanas construindo

um mundo novo

plantando idéias minerais

metáforas concretas

de cimento e vidro

sonhos totemizados de artistas

vanguardistas

hipérboles metásteses

versos rimas decantadas

signos, sinais.

 

Todos as veias entronizadas

num discurso de mármores

votivos,

exaltando valores –

metamorfismos. 
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