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Chico Alvim 

27 JUN 2018
27 de Junho de 2018
Vida e obra
Chico Alvim estreou em 1968 com o livro de poemas Sol dos cegos, que junto de Antonio Carlos de Brito, Cacaso, marcava o aparecimento do que José Guilherme Merquior chamou de a primeira geração de poetas “pós-vanguardas”.

Iniciou sua carreira no exterior como secretário da representação do Brasil junto à Unesco, em Paris. Entre 1969 e 1971 vive em Paris, onde escreve parte de seu livro Passatempo, lançado em 1974 pela coleção Frenesi, a qual editou também os livros Grupo Escolar, de Cacaso, Corações veteranos, de Roberto Schwarz, Em busca do sete-estrelo, de Geraldo Carneiro, e Motor, de João Carlos Pádua. A antologia 26 poetas hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda ajudou a dar visibilidade à poesia produzida nesse período, e ficou conhecida como poesia marginal.[1]

Em 1978, Francisco Alvim publica Dia sim dia não, com Eudoro Augusto, e, em 1981 Festa e Lago, montanha, que mantinham a marca da produção independente e artesanal do autor. Em 1981 a editora Brasiliense reuniu seus livros em Passatempo e outros poemas, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti.[2]

Em 1988, a coletânea Poesias reunidas lhe rendeu outro Prêmio Jabuti; em 2000, publica Elefante (Companhia das Letras), livros depois reunidos em Poemas (1968-2000). O mais recente livro de Francisco Alvim chama-se O metro nenhum (Companhia das Letras, 2011)[3].

Foi cônsul-geral do Brasil em Barcelona (1995-1999) e em Roterdão na Holanda (1999-2003), tendo sido então nomeado Embaixador na Costa Rica[4], vindo a se aposentar do Ministério das Relações Exteriores em outubro de 2008.





Manhã de Sol com Azulejos
Tudo se veste da cor de teu vestido azul 
Tudo — menos a dona do vestido: 
meus olhos te passeiam nua 
pela grama do campo de golfe 

Uma curva e eis-nos diante de meu coração 

Não amiga   não temas 
meu coração; 
é apenas um chapéu surrado 
que humildemente estendo 
para colher um pouco de tua alegria 
de tua graça distraída 
de teu dia 

Francisco Alvim, in 'Sol dos Cegos' 




DRUMMONDIANA 
 

Estamos gastos sim estamos  
gastos 
O dia já foi pisado como devia  
e de longe nosso coração  
piscou na lanterna sangüínea dos automóveis  
Agora os corredores nos deságuam  
neste grande estuário  
em que os sapatos esperam 
para humildemente conduzir-nos a nossas casas 
 

Em silêncio conversemos

Que fazer deste ser  
sem prumo  
despencado do extremo de um dia e  
que o sono não recolheu?

Não não indaguemos 
Para que indagar matéria de silêncio  
Procurar a nenhuma razão que nos explique  
e suavemente nos envolva  
em suas turvas paredes protetoras 
 

Nada de perguntas 
A campânula rompeu-se 
O instante nos ofusca

A quem sobra olhos resta ver  
um ser nu a vida pouca  
Só dentes e sapatos  
de volta para casa

Nem um passo à frente  
ou atrás 
De pés firmes 
o corpo oscilante  
neste suave embalo da mágoa  
descansemos. 



Amor
(fragmentos) 

Por um instante, retive-me em ti 

Formei contigo um único poro 
por onde penetrou a consciência unívoca de nossa posse 
de nossa perda 

Estou em mim 
Estou no outro 
Estou na coisa que me vê 
e me situa 

Diante de mim 
Diante do outro 
Diante da coisa 
Está a morte 

Francisco Alvim, in 'Sol dos Cegos' 
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