MINHA MÃE
In memoriam
Como uma música distante,
sei que verdejas pelos campos
onde a abelha cisma entre as cores
e os odores.
Nas grimpas da árvore mais alta
vais buscar o teu néctar,
no rastro da perfeição:
nenhum senão
admitias na tua lida:
tua vida.
Assim chegou, assim partiu.
Foi um canto distante e único
que não consegui decifrar:
constante busca, contradição
e ao fim de tudo: o chão.
Mãe de muitos caminhos,
árduos, galhos secos, espinhos,
de onde jorravam:
suor,
dor e
amor (eu sei).
INSÔNIA
De repente, é madrugada.
O galo canta macio
e o coração não diz nada.
O sono se perdeu no vazio
das promessas que ouvi
e cansei de catalogar no infinito
de minhas certezas pueris.
Já não sei em que acredito,
sigo debatendo-me no porto
onde todas as embarcações dormem
e só eu fujo do ponto cego da noite,
de onde escorrem meus cabelos soltos,
como caídos de nuvens disformes
à espera de que o sono volte.