Das águas
A força das mulheres
Está no cheiro
De terra molhada
Que fica depois da chuva esperada
A força das mulheres
Está na terra arrasada
Na planície devastada
Do sertão
Que se levanta
Em seu próprio pó
A força das mulheres
Um dia vai oceanar
Jorrar gotas de esperança
Irrigar a terra ferida
Mulher não é planta seca
Isso é o que importa
Mulher não é natureza morta
Sempre haverá força nas mulheres
Destino da mulher é amor
Destino da mulher é amar
Toda mulher
Pode se encontrar em suas águas
Toda mulher
Pode se encontrar nas águas do mar.
Pixaim Elétrico
Naquele dia
Meu pixaim elétrico gritava alto
Provocava sem alisar ninguém
Meu cabelo estava cheio de si
Naquele dia
Preparei a carapinha para enfrentar a monotonia da paisagem da estrada
Soltei os grampos e segui
De cara pro vento, bem desaforada
Sem esconder volumes nem negar raízes
Pura filosofia
Meu cabelo escuro, crespo, alto e grave
Quase um caso de polícia
Em meio à pasmaceira da cidade
Incomodou identidades e pariu novas cabeças
Abaixo a demagogia
Soltei as amarras e recusei qualquer relaxante
Assumi as minhas raízes
Ainda que brincasse com alguns matizes
Confrontando o meu pixaim elétrico
Com as cores pálidas do dia.
Tupi-nagô
Na casa jardim
Tupi-Nagô rasgou meu ventre estéril com seus sorrisos
Com seus bracinhos roliços
Enfeitou meu pescoço
Nasci mãe da menina
Mãe inesperada
Ayana Thainá
Eu te ensinei a caminhar
Eu, mãe nascente
Seguimos pela mata da vida
Ancestral dando o caminho
Ancestral dando o caminhar
Ayana Thainá minha Tupi-Nagô
No abraço fraterno
Selamos nossa aliança
Pois quando voltou para os meus braços
Eu vi a anciã
Nos olhos gentis
Nos gestos pueris
Na alegria incontrolável da criança
Ayana Thainá minha Tupi-Nagô
A menina dos olhos d’água
Esperava por mim
Com saudade e amor.